A história voltou a cumprir-se: Pintar e Cantar dos Reis manifestou-se madrugada fora em aldeias de Alenquer

O Pintar e Cantar dos Reis ditou o fim da programação do Alenquer Presépio de Portugal e cumpriu-se em 2025 por entre o frio habitual acompanhado de uma chuva que se foi contornando. Através do roteiro programado ou de forma individual, dezenas de alenquerenses e turistas, nacionais e estrangeiros, irromperam pela noite para propagar uma tradição ímpar.
Pelo menos nas localidades de Abrigada, Bairro, Cabanas de Chão, Cabanas de Torres, Casal Monteiro, Catém, Espiçandeira, Labrugeira, Mata, Olhalvo, Ota, Paúla. Penafirme da Mata e Pocariça as siglas "BF" (Boas Festas), "B.R." (Bons Reis), "V.R." (Viva a República ou Viva os Reis) ou "BRM" (Bons Reis Magos) voltaram a figurar nas paredes e muros das casas sinalizadas previamente. O grupo de reiseiros, que se vai mantendo uniforme ano após ano, começa por fazer uso dos pincéis e tintas, em silêncio. Um segundo grupo, normalmente liderado por um apontador, canta uma mensagem dos Reis Magos que difere de local para local, mas que denota um traço comum.
O ritual mantém o caráter intimista, feito na escuridão possível, apesar de contar agora com um cunho diferente. Se há décadas, a tradição era feita exclusivamente por homens e jovens rapazes tantas vezes em busca de 'filhas casadoiras', em 2025 as mulheres, mais jovens ou mais idosas, têm uma preponderância de grande realce em qualquer uma das localidades onde se pinta e cantam os reis há décadas.
Habitual observador atento da tradição é Pedro Folgado, Presidente da Câmara Municipal de Alenquer. O autarca voltou a integrar a comitiva madrugada fora e a viver por dentro "uma tradição que se configura há séculos" e que "se sente viva". "Estivemos em vários locais e surpreende-me a força da tradição que há bem pouco tempo não tinha este vigor. Vimos grandes grupos a pintar e a cantar e onde há gente muito jovem, a querer entrosar-se nesta tradição tão alenquerense. É um motivo de orgulho. O Município tem apostado na revitalização do Pintar e Cantar dos Reis".
O edil alenquerense garantiu que é bom sentir que a aposta realizada numa tradição única no país e no Mundo dê frutos, sendo disso evidência a excursão lotada e as expectativas entre as pessoas "mais ou menos conhecedoras" de aguardarem pela noite de 5 de janeiro e madrugada de 6 de janeiro, o Dia de Reis. "Temos traçado um caminho no sentido de dar força a uma tradição que é já Património Imaterial Cultural Nacional, editando livros, apostando na sinalética e reforçando a divulgação. Parece-me agora que esta manifestação cultural voltou a estar, felizmente, muito enraizada e consolidada no alto concelho de Alenquer. Há cada vez mais pessoas interessadas no fenómeno e é importante para que a tradição prevaleça", ressalvou.
Após o 6 de janeiro, a vez é dos mais novos. Crianças do jardim de infância e 1º ciclo do ensino básico das escolas do concelho de Alenquer tomam um dos primeiros contactos com uma tradição que também será sua no futuro. As cores, as simbologias, o que se canta e a execução de todo o processo de Pintar e Cantar dos Reis é analisada de forma didática e entretida. Para que a tradição perdure.