“O que diria ao cancro? Agradecia-lhe os ensinamentos e despedia-me com amizade”

Passou pela luta e contou-a no livro ‘Escolhi Viver’. Joana Cruz, animadora das manhãs da RFM, fala do tema abertamente porque “não pode haver tabus” sobre o cancro da mama. Da experiência retira “coisas boas”, nomeadamente a “aprendizagem interior” que a faz tentar “fazer coisas diferentes, todos os dias”. Hoje é o Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama.
- No seu livro ‘Escolhi Viver’, fala da incerteza causada por um diagnóstico inicial errado. Como lidou com essa fase de dúvida e o que a fez continuar a insistir em ouvir o seu corpo?
- Lidei muito bem inicialmente com uma informação que era de descanso. Seria um quisto que iria rever daí a 6 meses. A questão foi que, sem eu explicar bem, pensava muitas vezes na palavra repete e sentia um formigueiro à noite quando me deitava. Não havia nenhum desconforto de maior. Felizmente ouvi a minha intuição.
- O que se sente no dia em que se inicia os tratamentos? Conseguimos preparar a mente para esse momento?
- Temos de tentar fazer a nossa parte. Pensar que vamos lidar com os possíveis sintomas de cada vez. É passo a passo. E tentar abstrair e viver os dias com o maior conforto possível e, quando não há, lidar com muita calma.
- Que ligação se cria com os técnicos que acompanham nos tratamentos, esses rostos que acabam por se tornar uma espécie de família?
- São sempre pessoas tão afáveis que nos dão conforto e sabem lidar connosco de forma muito humana. Lembro-me bem da Bárbara, do André, da Mariana. Sempre com um sorriso e muita segurança no que fazem, o que nos deixa muito descansadas.
- Há algum momento mais leve ou inesperado que tenha vivido durante os tratamentos que hoje olha com um sorriso?
- O carinho que recebi de tanta gente e até mesmo o momento em que rapei o cabelo a mim própria. Pensei que jamais imaginei viver aquilo, mas tinha de encarar as coisas da melhor forma.
- Qual foi a primeira coisa que fez quando soube que estava livre do cancro?
- Fui comer um sushi e abrir um champagne!
- O que diria que foi o pior e o melhor desta experiência de ter tido cancro?
- Só tiro coisas boas. Uma aprendizagem interior que me lembra que todos os dias temos oportunidade de fazer diferente, que temos de fazer o que nos faz sentir bem.
- O que não se fala sobre o cancro da mama, mas que devia chegar a toda a gente?
- Acho que felizmente se fala de muita coisa e isso só é bom. Não pode haver tabus e temos o mais possível que falar abertamente das coisas para poder aliviar o que já basta que a doença é.
- Se soubesse o que sabe hoje, que conselho daria a alguém que acabou de receber o diagnóstico de cancro da mama?
- Que respire, que confie no processo, que confie nos médicos e tente fazer a sua parte que é manter a maior calma.
- O que pesa mais ao falar abertamente sobre o cancro: a parte de catarse ou a ajuda ao próximo?
- São as duas coisas que fazem bem, a quem verbaliza o que sente e com isso também se vai curando e, quem sabe, poder ajudar alguém com outro ponto de vista.
- Se o cancro fosse uma pessoa com quem pudesse conversar, o que lhe diria?
- Que quando vem, terá sempre algum propósito. Abraço-o, agradeço os ensinamentos que me deu e depois despeço-me com amizade.
- Quando é que um dia todos poderemos usar a cancro de uma forma direta sem procurar alternativas como 'doença prolongada'?
- Pois não sei, mas creio que já se vão dando nomes como deve ser. E assim é que deve ser.