Se somos todas diferentes… o nosso cancro também é?

A 3.ª edição da campanha nacional “O Meu é Diferente do Teu” regressa este ano com o objetivo de sensibilizar a população para os diferentes subtipos de cancro da mama e reforçar a importância do diagnóstico precoce. A iniciativa é promovida pela AstraZeneca e pela Daiichi Sankyo, em parceria com a Careca Power, Evita, Liga Portuguesa Contra o Cancro, Sociedade Portuguesa de Senologia e Sociedade Portuguesa de Oncologia.
Uma das principais mensagens desta edição prende-se com a expansão do programa nacional de rastreio do cancro da mama, que desde março de 2025 passou a abranger mulheres entre os 45 e os 74 anos.1 Esta medida permite que milhares de mulheres que antes não estavam incluídas passem a ter acesso regular a exames de rastreio, aumentando as hipóteses de deteção precoce e tratamento eficaz.
O cancro da mama é o segundo cancro mais diagnosticado no mundo e em Portugal, sendo o mais diagnosticado em mulheres.2,3 De acordo com dados do Global Cancer Observatory, em Portugal são diagnosticados anualmente cerca de 8.954 novos casos de cancro da mama, resultando em aproximadamente 2.211 mortes.3 Apesar destes números, a mortalidade tem vindo a diminuir, graças à deteção precoce e aos avanços nos tratamentos.4
O Dr. José Luís Passos Coelho, Presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, destaca a relevância do alargamento do rastreio:
“O facto de o rastreio nacional passar a incluir mulheres a partir dos 45 e até aos 74 anos é particularmente relevante porque responde a duas realidades distintas. Por um lado, permite chegar a mulheres mais jovens, que ainda estão em idade ativa e muitas vezes não percecionam o seu risco; por outro, garante acompanhamento a mulheres em idades mais avançadas, que continuam vulneráveis e que até aqui ficavam fora do programa. A deteção precoce é, sem dúvida, a chave para melhorar o prognóstico e para permitir tratamentos eventualmente menos agressivos. Quanto mais cedo conseguirmos intervir, maior a probabilidade de tratamento e, em muitos casos, cura e melhor qualidade de vida das doentes.”
Sob o mote “Se somos todas diferentes, porque é que o nosso cancro há de ser igual?”, a campanha pretende aumentar a literacia em saúde, sublinhando que existem vários subtipos moleculares de cancro da mama, com diagnósticos e abordagens terapêuticas distintas:
- Luminal A – É o subtipo mais prevalente que tem uma elevada expressão de recetores hormonais; menor índice de agressividade e ausência de expressão de HER2;6
- Luminal B – Com menor prevalência comparativamente ao subtipo Luminal A, o subtipo Luminal B pode ter ou não positividade para o HER2 e tende a apresentar um índice de proliferação mais elevado;6,7
- HER2+ – Cresce mais rápido que os cancros Luminais e regista ausência de expressão de recetores hormonais e elevada expressão de HER2;6,7
- Triplo negativo – Sem expressão para os RH e para o HER2. É o subtipo que regista um maior índice de agressividade.6
Estão também a ser reconhecidos novos perfis de diagnóstico, como o HER2-low, sinal da evolução científica e da personalização dos tratamentos.8
A Dr.ª Gabriela Sousa, Presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia, sublinha a importância do conhecimento sobre o subtipo da doença:
“Sabemos hoje que o cancro da mama é uma doença heterogénea e que não existem dois casos iguais. Esta diversidade biológica reforça a necessidade de individualizar o tratamento, adaptando-o a cada subtipo. Cada subtipo exige uma abordagem personalizada. É fundamental que as mulheres compreendam que perguntar ao médico qual é o seu tipo de cancro pode fazer toda a diferença na tomada de decisão partilhada quanto à escolha do tratamento e no prognóstico da doença. Mas para isso é crucial aumentar a literacia da população: é preciso que as mulheres entendam a importância de conhecer o seu subtipo e que estejam informadas sobre as opções que daí decorrem.”
Lembre-se: se lhe for diagnosticado cancro da mama, o seu caso pode ser diferente do de outra pessoa. Conhecer o seu subtipo é o primeiro passo para encontrar o tratamento mais adequado. “O Meu é Diferente do Teu”.
Referências
1. Liga Portuguesa Contra o Cancro. Programa de rastreio de cancro da mama. Lisboa: LPCC; 2024. Disponível em: https://www.ligacontracancro.pt/servicos/detalhe/url/programa-de-rastreio-de-cancro-da-mama/. Consultado em outubro de 2025.
2. Globocan 2022. World Fact Sheet. Disponível em https://gco.iarc.who.int/media/globocan/factsheets/populations/900-world-fact-sheet.pdf. Acedido em outubro de 2025.
3. Globocan 2022. Portugal Fact Sheet. Disponível em https://gco.iarc.who.int/media/globocan/factsheets/populations/620-portugal-fact-sheet.pdf Acedido em outubro de 2025.
4. Registo Oncológico Nacional. (s.d.). Epidemiologia do cancro da mama. Ministério da Saúde.
Disponível em: https://ron.min-saude.pt/pt/tumor/top5/mama/epidemiologia/. Consultado em outubro de 2025.
5. Fernandes I, et al. P. Manual de Oncologia SPO: abordagem e tratamento do cancro da mama. 1ª edição, edit.on.lab.,lda, 2020. Disponível em: https://www.sponcologia.pt/fotos/editor2/publicacoes/manual_oncologia_spo.pdf. Acedido em outubro de 2025.
6. Gomes do Nascimento R, Otoni KM. Histological and molecular classification of breast cancer: what do we know? Mastology. 2020;1-8. Disponível em: https://www.mastology.org/wp-content/uploads/2020/09/MAS_2020024_AOP.pdf. Acedido em outubro de 2025.
7. Orrantia-Borunda E, et al. Subtypes of breast cancer. In: Breast Cancer: Molecular and Cellular Biology. Bethesda (MD): National Center for Biotechnology Information; 2022. p. 15–28. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK583808/. Acedido em outubro de 2025.
8. Modi S, et al. Trastuzumab deruxtecan in previously treated
HER2-low advanced breast cancer. N Engl J Med. 2022;387(1):9-20.