António França Borges, um lutador da palavra de Sobral de Monte Agraço

“Se França Borges vivesse, considerá-lo-iam um idealista incorrigível (…). Não compreendem os homens do nosso tempo que se possa servir uma ideia com dedicação e desinteresse. E essa qualidade (…) foi a suprema virtude de França Borges”
Sebastião Magalhães Lima
António França Borges nasceu a 10 de janeiro de 1871, em Sobral de Monte Agraço. Filho de António Ribeiro Borges e Cândida Borges França, realizou os seus estudos no Colégio Luso-Brasileiro e na Escola Nacional.
Iniciou a sua carreira como funcionário público, na repartição da Fazenda Pública, na sua terra natal. Porém, algum tempo depois foi destacado para Sintra como consequência da sua intervenção política. Transferido, depois, para Vila Real de Santo António, acaba por retornar a Lisboa como escrivão da Fazenda do 2.º bairro da capital.
Desde muito cedo começa a escrever na imprensa, onde se viria a destacar como jornalista de combate e grande defensor dos ideais republicanos.
Colaborou com vários jornais e dirigiu as redações do Vanguarda, do País, de A Lanterna e do periódico A Pátria (1899-1900). Escreveu vários textos contra a ditadura franquista e assinou com Helidoro Salgado o panfleto O Combate.
A partir daqui a sua visibilidade aumenta, tornando-se num dos jornalistas mais populares. Envolve-se em inúmeras polémicas e chega a ser preso por abuso de liberdade de imprensa.
Ainda no tempo da Monarquia foi deputado pelo Partido Republicano Português (PRP) e um acérrimo lutador contra o regime monárquico-constitucional. A sua postura e escrita revolucionária foram demolidoras em relação à ditadura de João Franco.
Em 1894 funda, com o seu irmão, A Defeza do Sobral do Mont’Agraço e, em novembro de 1900, o Jornal O Mundo. Este último, que dirige até à sua morte, afirmou-se como porta-voz do Partido Republicano e, mais tarde, do Partido Democrático.
Foi iniciado na Maçonaria em 1901, na loja Montanha, com o nome de Fraternidade. Fez parte da loja Justiça e presidiu à loja O Futuro (1905). Foi presidente da Associação do Registo Civil e membro do diretório do Partido Republicano.
Foi preso na sequência da tentativa falhada do golpe republicano de 28 de janeiro de 1908 e exilou-se em Espanha, onde continuou a colaborar no jornal republicano que dirigia. Com a implantação da República regressou a Portugal e foi eleito deputado em 1911.
Morreu de tuberculose, em Davos-Platz (Suíça), a 5 de novembro de 1915.
(Pesquisa e texto de Sandra Oliveira)
O Projeto ‘Da Biblioteca para o Mundo’ é uma parceria entre a Comunidade Intermunicipal do Oeste e a Rede Intermunicipal de Bibliotecas do Oeste (RIBO) com o propósito de descobrir ou revisitar figuras do município que gravaram o seu nome nos livros.
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Foto: Biblioteca Municipal do Sobral de Monte Agraço