Cultura
Apresentação do livro "O Diário de Hodgkin": Uma história de luta, resiliência e esperança
10 de fevereiro, 2025
Cadaval

Comovente e inspiradora. Assim foi a sessão de apresentação do livro "O Diário de Hodgkin", de Rute Silva, este sábado 8 de fevereiro, na Biblioteca Municipal do Cadaval. A obra relata uma história de luta contra o Linfoma de Hodgkin, um cancro do sistema linfático que a autora enfrentou por duas vezes. Através da escrita, Rute Silva transformou a dor em partilha, permitindo que outros encontrem força e identificação, uma mensagem que não quis deixar passar em branco na sessão de apresentação.
O presidente da Câmara do Cadaval, Ricardo Pinteus, abriu o evento que reuniu dezenas de pessoas, ávidas de conhecer um pouco mais da obra e da história que lhe deu forma e força.
O testemunho de Rute Silva encontrou outra dimensão ao ser partilhado em simultâneo com o de Inês Coelho, uma cadavalense e amiga da autora que trava também atualmente uma luta oncológica. Numa conversa intimista, onde deixaram a audiência entrar, partilharam experiências, medos e aprendizagens, mostrando que a dor pode transformar-se em inspiração.
A necessidade de tentar expressar todas as emoções vividas desde a descoberta da doença, os tratamentos e a reincidência do Linfoma de Hodgkin, levou Rute Silva a escrever as primeiras frases soltas, redigidas como forma de desabafo, que incorporariam mais tarde o livro. Narrada na terceira pessoa, a obra permite uma viagem pelo processo de superação, mas também pelos sonhos que a foram mantendo viva. “Cada vez que eu me sentava 5 a 7 horas para levar quimioterapia, programava viagens, ainda que não soubesse se um dia iria realizá-las”, contou a autora. As cidades e países que almejou visitar dariam nome às personagens da obra, inspiradas nas pessoas que a acompanharam e marcaram nesta etapa.
Entre as memórias mais marcantes está o período do transplante de medula óssea, um tratamento particularmente doloroso e solitário. Durante os 28 dias de isolamento, chegou a escrever uma carta de despedida, acreditando que talvez não conseguisse sobreviver. Felizmente, o transplante aconteceu, e a carta passou de uma missiva de despedida para um texto de esperança, que pode ser encontrado na obra. "Se antes via o cancro como um travão, hoje vejo como uma alavanca", afirmou a autora.
Ao terminar Inês Coelho, fez questão de frisar que “ninguém quer ter cancro. Eu não quero, nem quis ter cancro, não precisei dele para aprender, não o desejo a ninguém para aprender nada e há uma frase que deixo para refletirem: muitas vezes as pessoas dizem que só se vive uma vez, mas está errada essa ideia. Só se morre uma vez, nós vivemos todos os dias". “Perante um desafio da vida que pode ser um precipício, temos duas hipóteses: saltarmos e cairmos, ou saltarmos e voamos”, complementou Rute Silva.
A apresentação da obra no Cadaval, que assinalou o Dia Internacional da Luta Contra o Cancro, encerrou um ciclo de 14 sessões, mas depois de "O Diário de Hodgkin", a autora promete continuar a espalhar a mensagem de força, resiliência e esperança numa nova obra.